O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) divulgou nesta quinta-feira (26/03) o Mapa de Qualidade das Águas de Minas Gerais. O estudo é resultado do Projeto Águas de Minas, que monitora as águas superficiais do Estado, realizado a partir da coleta trimestral nas oito principais bacias mineiras. A bacia do rio Paranaíba, assim como as bacias dos rios Pardo e Jequitinhonha, apresenta as melhores condições de qualidade de água do Estado.
Os indicadores obtidos avaliam a freqüência de ocorrência de contaminação em decorrência de matéria orgânica e fecal, sólidos e nutrientes (Índice da Qualidade das Águas - IQA) e a ocorrência de substâncias tóxicas (Contaminação por Tóxicos - CT).
A qualidade das águas da bacia do rio Paranaíba, em 2008, variou pouco em relação a 2007. Como acontece desde 2003, houve predominância do IQA Bom (54,2%), pouco acima do registrado em 2007 (47,9%). A ocorrência anual de IQA Médio diminuiu de 42,3% em 2007 para 26,4% em 2008, e a de IQA Ruim aumentou, passando de 9,9% de freqüência em 2007 para 19,4% em 2008.
O IQA em 2008 foi influenciado negativamente de maneira expressiva pela presença de coliformes e fósforo total. Isso demonstra a relevância da atividade de agropecuária na degradação dos recursos hídricos, com contaminação fecal e erosão. Também deve ser considerado o lançamento de esgotos sanitários de várias localidades nos corpos de água.
Os pontos localizados no rio Paranaíba entre os reservatórios de Emborcação e Itumbiara, no rio Paranaíba após a usina hidrelétrica de São Simão, no rio Araguari após o reservatório de Miranda e no rio São Domingos próximo de sua foz no rio Paranaíba apresentaram IQA Bom em todas as campanhas de amostragem de 2008, caracterizando as melhores condições de qualidade da bacia do rio Paranaíba. Estes pontos, por estarem localizados após reservatórios, tendem a apresentar IQA melhor, devido ao processo de sedimentação de sólidos e nutrientes.
Os piores Índices de Qualidade da Água estão localizados sempre após grandes cidades. Sobressaem-se os pontos do rio Paranaíba depois de Patos de Minas, do rio Jordão depois de Araguari (PB009), do rio Capivara depois de Araxá e do rio Uberabinha após Uberlândia. Nestes locais observou-se a ocorrência de IQA Ruim em duas campanhas de amostragem de 2008, em decorrência do lançamento de esgotos domésticos sem tratamento.
Mesmo assim, houve melhoria na qualidade das águas do rio Jordão após a cidade de Araguari, rio Santo Antônio antes do Reservatório de Nova Ponte e rio Uberabinha depois de Uberlândia. Por outro lado, piorou a qualidade das águas do rio Araguari, antes do Reservatório de Nova Ponte e depois do reservatório de Intubiara. Resultados semelhantes foram encontrados no rio Quebra Anzol antes do reservatório de Nova Ponte e no rio Tijuco, antes do reservatório de São Simão.
Esses resultados refletem os impactos sobre os corpos de água causados pelo lançamento de efluentes domésticos e industriais sem tratamento, extração de fósforo e pecuária presentes na bacia do rio Paranaíba.
Contaminação baixa
A Contaminação por Tóxicos (CT), como tem acontecido nos três anos anteriores, predominou como Baixa em 2008, diminuindo, no entanto, de 88,9% em 2007 para 61,1% das estações de amostragem em 2008. A classificação baixa é considerada uma boa condição em relação à ocorrência de substâncias tóxicas. Já a ocorrência da CT Média aumentou de 11,1% em 2007 para 27,8% das estações em 2008. Ressalta-se que, em 2007, nenhum contaminante chegou a atingir CT Alta, mas em 2008 duas estações de amostragem atingiram, representando 11,1% de ocorrência.
As ocorrências de CT Média e Alta estão relacionadas a cromo e chumbo. As contaminações por chumbo podem ser relacionadas à metalurgia e indústria têxtil, dos municípios de Ibiá, Sacramento, Santa Juliana, Uberlândia, Araguari, Tupaciguara e Santa Vitória.
A contaminação Alta por cromo foi encontrada no rio Capivara após Araxá, sendo associada à indústria têxtil, curtume e metalurgia. A CT Alta também foi encontrada no rio Tijuco antes do reservatório de São Simão, devido às concentrações de chumbo, provenientes de indústria têxtil, cerâmica e metalurgia.
Monitoramento das águas
Realizado desde 1997, o Projeto Águas de Minas teve início com 222 pontos de amostragem nas oito principais bacias hidrográficas. Em 2007, o número de pontos correspondia a 260 e em 2008 passou a ser 353 pontos de amostragem.
As coletas são feitas a cada trimestre, com um total de quatro campanhas anuais. Nas amostras coletadas são realizadas análises físico-químicas, bacteriológicas e ecotoxicológicas pela Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Sectes).
Classificação
O Índice de Qualidade das Águas - IQA reflete a contaminação das águas em decorrência da matéria orgânica e fecal, sólidos e nutrientes e sintetiza em um único número a interpretação de nove parâmetros considerados mais representativos para a caracterização da qualidade das águas. Para constatar a melhora ou piora dos rios de Minas Gerais é feita uma comparação dos resultados da média anual do IQA dos pontos amostrados no ano de verificação, com as médias dos anos anteriores.
Para a avaliação da Contaminação por Tóxicos (CT) comparam-se os resultados obtidos com os limites definidos nas classes de enquadramento dos corpos de água pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) e Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH), na Deliberação Normativa Conjunta nº 01/08. A denominação Baixa refere-se à ocorrência de substâncias tóxicas em concentrações que excedam em até 20% o limite de classe de enquadramento do trecho do corpo de água onde se localiza a estação de amostragem. A contaminação Média refere-se à faixa de concentração que ultrapasse os limites mencionados no intervalo de 20% a 100%, enquanto a contaminação Alta refere-se às concentrações que excedam em mais de 100% os limites.
A pior situação identificada no conjunto total de resultados das campanhas de amostragem, para qualquer parâmetro tóxico, define a faixa de contaminação do período em consideração. Portanto, se apenas um dos parâmetros tóxicos em uma dada estação de amostragem mostrar-se com valor acima de 100%, isto é, o dobro da sua concentração limite apontada na DN Copam/CERH 01/08, a contaminação da água por tóxicos naquela estação de amostragem será considerada alta no ano em análise.