Foto: Divulgação/Igam
Expedição realizada pela Polícia Federal, como o apoio do Igam, em maio de 2019, constatou que os rejeitos oriundos da barragem da Vale, que rompeu em Brumadinho, não contaminaram o Rio São Francisco
Mais de mil coletas de amostras de água, realização de cerca de 27.600 análises laboratoriais e emissão de 71 boletins informando à sociedade sobre a qualidade da água do Rio Paraopeba. Os números referem-se às ações já desempenhadas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) no monitoramento da qualidade da água do Rio Paraopeba, no intervalo de um ano após o rompimento da Barragem 1, da Vale, em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019. Um caderno especial com os resultados obtidos ao longo de 12 meses de monitoramento após o desastre foi publicado na última sexta-feira (17/04).
Entre os resultados apontados estão a oscilação nos parâmetros de qualidade e nível de turbidez da água do Rio Paraopeba com a interferência do período chuvoso de 2019/2020, que revolveu a pluma de rejeitos à superfície do corpo d’água. Todos os trabalhos foram realizados pela Gerência de Monitoramento de Qualidade das Águas, da Diretoria de Operações e Eventos Críticos do Instituto.
Houve ainda parceria com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a Agência Nacional das Águas (ANA) e a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) visando uma integração dos dados coletados ao longo do curso do rio, e do Ribeirão Ferro-Carvão, também atingido pelos rejeitos. De acordo com o caderno, o período mais crítico no Rio Paraopeba e no Ribeirão Ferro-Carvão foi entre janeiro e abril de 2019, quando a concentração de ferro, manganês, alumínio e metais pesados, como chumbo e mercúrio, estavam em valores bastante acima do permitido.
MAIORES IMPACTOS
Os dados do Caderno indicam que nos 60 dias subsequentes ao rompimento ocorreram os maiores impactos sobre o ribeirão Ferro-Carvão e sobre o Rio Paraopeba. O trecho compreendido entre os municípios de Brumadinho e São Joaquim de Bicas, de aproximadamente 40 km de extensão (distância medida desde a barragem que rompeu), ficou totalmente impactado, inviabilizando o uso da água para as mais diversas finalidades, pois encontrava-se com valores significativos de turbidez, ferro, manganês, alumínio e presença de metais pesados como chumbo e mercúrio.
MELHORIA DA QUALIDADE
De abril a outubro de 2019 a qualidade da água na calha do Rio Paraopeba apresentou redução gradativa de turbidez e dos níveis de todos os metais avaliados. Nesse período, os resultados de turbidez chegaram a ficar abaixo dos limites estabelecidos para o rio. A exceção foi em resultados de manganês total e de alumínio dissolvido, entre os trechos a montante do rompimento até a Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo. A redução do parâmetro de turbidez na água superficial está relacionada, segundo o estudo, ao período de estiagem que favoreceu a deposição do rejeito.
PIORA COM O PERÍODO CHUVOSO
Os níveis de turbidez ainda foram alterados novamente, no último trimestre de 2019, entre outubro e dezembro, em função do início do período chuvoso. Neste período foi verificado aumento na concentração de ferro, manganês, chumbo e turbidez acima dos limites estabelecidos. O resultado, aponta o Caderno, já era esperado em função do revolvimento do material que ainda se encontra depositado no leito do rio, sobretudo na área mais próxima ao rompimento, em Brumadinho.
Com relação à avaliação dos sedimentos de fundo verificou-se que os teores mais elevados desses metais em sedimentos foram identificados nos primeiros 60 dias após o desastre (de janeiro a março de 2019). No trecho 3 os metais em sedimentos estiveram muito acima dos valores encontrados a montante do rompimento, durante os meses de janeiro a junho, ficando a partir desse período com valores bem próximos aos obtidos a montante.
Nos trechos 4 e 5 (a jusante do reservatório da UHE Retiro Baixo) continua não sendo possível identificar a interferência dos rejeitos provenientes da barragem B1, uma vez que os teores dos metais em sedimento nesses trechos apresentam pouca oscilação e continuam inferiores aos percentuais da estação localizada a montante do impacto do rompimento da barragem.
SITUAÇÃO ATUAL
O monitoramento da qualidade da água feito pelo Igam ao longo da Bacia do Paraopeba é contínuo e os últimos resultados (de fevereiro de 2020 e não constantes no caderno especial), mostraram, em comparação ao mês anterior, uma redução nas concentrações de turbidez, ferro, manganês, alumínio e chumbo na maioria dos pontos avaliados. Os dados constam no Boletim Informativo do Cidadão Sobre a Qualidade da Água no Rio Paraopeba, disponível no site do Igam, neste link.
De acordo com a gerente de Monitoramento de Qualidade das Águas do Igam, Katiane Brito, com base nos resultados do monitoramento de um ano foi possível verificar que o derramamento de rejeitos de minério oriundo da barragem B1 operada pela Vale causou impactos na qualidade hídrica, em diferentes graus de intensidade, sobretudo aqueles relacionados à turbidez e à presença dos metais ferro dissolvido, alumínio dissolvido e manganês total.
“O monitoramento intensivo da qualidade da água realizado no Rio Paraopeba após o desastre se mostrou como uma ferramenta de acompanhamento primordial, dado os impactos causados ao meio ambiente, com repercussão para usuários, tanto no que diz respeito à regulação dos usos dos recursos hídricos quanto à proteção à saúde pública”, diz a gerente.
Ela ainda reforça que o acompanhamento realizado é um aliado na construção de projetos para recuperar a bacia. “Esse trabalho é fundamental para a de?nição de estratégias que busquem a recuperação do Rio Paraopeba, bem como para o acompanhamento da efetividade das ações que serão implementadas”, acrescentou.
A diretora-geral do Igam, Marília Melo, explicou que a Bacia do Paraopeba é um território estratégico para Minas Gerais, por estar situada no quadrilátero ferrífero com importante produção mineral e relevância econômica. Ela ainda ressalta que três reservatórios que abastecem a Região Metropolitana de Belo Horizonte estão inseridos na bacia, o que reforça ainda mais a importância do Rio Paraopeba.
Com o rompimento da barragem, Marília explica que o monitoramento da qualidade das águas do Igam foi intensificado. “Tivemos diversos impactos diretos na qualidade das águas e consequentemente no provimento de usos múltiplos na área diretamente afetada. O programa de monitoramento visa fornecer à sociedade o conhecimento da situação da qualidade das águas, bem como permitir o acompanhamento das ações de recuperação da Bacia do Rio Paraopeba”, frisa a diretora-geral.
MONITORAMENTO
Antes do rompimento da barragem, o monitoramento da qualidade da água na calha do Rio Paraopeba já era realizado pelo Igam desde 1997 em 8 pontos de coletas entre Brumadinho e Pompéu. Após o rompimento, o trabalho foi intensificado e, nos primeiros 60 dias após o rompimento, a frequência para as coletas de água superficial passou a ser diária, e semanal para sedimentos, no trecho entre Brumadinho e Felixlândia.
Foram, ainda, implantadas mais 9 estações de amostragem para um melhor acompanhamento do impacto causado sobre as águas do Rio Paraopeba. Atualmente, o Igam monitora, semanalmente, 16 pontos distribuídos ao longo do Rio Paraopeba.
O informativo referente à qualidade da água seguiu com periodicidade diária até março e a partir de julho de 2019 passou a ser publicado mensalmente. Em julho, iniciou-se a edição do Boletim do Cidadão que, mensalmente, traz as informações do monitoramento em uma linguagem mais acessível à população.
O Igam reforça seu compromisso de acompanhar os impactos sobre as águas do Rio Paraopeba por meio da manutenção do monitoramento sistemático ao longo de todo o rio até o corpo do reservatório de Três Marias, podendo o programa ser revisto de acordo com a necessidade, bem como, todas as ações para remoção dos rejeitos e recuperação da bacia do Rio Paraopeba, pela empresa Vale S/A, frente ao desastre ambiental ocorrido em Brumadinho.
Confira o Caderno Especial produzido pelo Igam na íntegra clicando aqui
Simon Nascimento
Ascom/Sisema