Com uma crescente produção de mudas, em quantidade e qualidade, o viveiro do Parque Estadual do Rio Doce, na região leste de Minas Gerais, conta com o cuidado diário de 18 funcionários, que asseguram uma produção e estoque mensal de 350 mil mudas nativas da Mata Atlântica, que estão sendo empregadas na recuperação da vegetação do Médio Rio Doce.
A prioridade é para espécies encontradas no parque e que correm risco de extinção como peroba rosa, braúna, jacarandá carviúna, garapa, jequitibá e vinhático. Mas também dedicam espaço ao semeio do palmito doce, palmeira originalmente encontrada de Norte a Sul do país e que devido à superexploração e sua iminente extinção, hoje é protegida por lei, tendo seu corte proibido.
A preservação do palmito doce está diretamente ligada à manutenção da biodiversidade da Mata Atlântica, já que sua semente e fruto servem de alimento para tucanos, sabiás, macucos, periquitos, jacus, jacutingas, antas, esquilos, tatus, capivaras e muitos outros.
Para garantir a diversidade genética das plantas, os funcionários do viveiro coletam sementes de pelo menos cinco indivíduos diferentes. Conhecidas como árvores matrizes, elas são identificadas na mata pelos funcionários do viveiro, do herbário e por pesquisadores de outras instituições, que desenvolvem trabalhos na unidade de conservação. “Planta é que nem as pessoas, algumas tem mais vigor, crescem mais rápido”, explica o coordenador do viveiro, o técnico agrícola Cláudio José Fernandes.
A importância da diversidade genética na recuperação de áreas está em recriar nas florestas restauradas condições idênticas às das florestas naturais. O indivíduo pode morrer, mas seus genes estarão presentes nas sucessivas gerações. Este conhecimento está comprovado em publicação recente do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), intitulada Pacto pela Restauração da Mata Atlântica.
Cláudio Fernandes esclarece que no período da seca, a árvore entra em estado de estresse, provocado pelo deficit hídrico. Em um mecanismo de defesa associado a sua sobrevivência, a árvore produz flores e frutos, surgindo, após as primeiras chuvas, as sementes que germinam garantindo seus descendentes e a diversidade florística do ecossistema na região.
O viveiro do parque reproduz as condições naturais e em alguns casos dá “uma mãozinha à natureza”. As sementes de difícil germinação em função de uma casca mais dura, os funcionários quebram e ralam a semente para agilizar o processo de germinação, ou seja, facilitam o contato da água com o embrião no interior da semente. Este é o caso da acácia rosa, que passa por um beneficiamento, onde sua casca é retirada e escarificada (ralada).
O peso da diversidade
O maior fruto da Mata Atlântica é o da sapucaia, pesando aproximadamente dois quilos, contendo 12 a 20 sementes. Já a menor semente é da quaresmeira, que pesa menos de uma grama. Um quilo corresponde a mais de três milhões de sementes. “ Um sopro. De tão leve causa a dispersão e deslocamento de milhares sementes”, diz Cláudio.
A coleta de sementes é feita com mais intensidade no segundo semestre, no período seco. São de duas a três coletas semanais e atualmente o viveiro possui mudas de 132 espécies da Mata Atlântica, quase todas presentes no parque. Em 2008 eram 92 espécies. A coleta de semente também teve um salto. Em 2008, os funcionários do viveiro conseguiram coletar uma média mensal de 156 quilos, em 2009 a média pulou para 197 quilos por mês e somente em janeiro deste ano foram coletadas 398 quilos de sementes. O resultado desse empenho é que a produção de mudas aumentou consideravelmente: em 2008, a média mensal foi de 15.129 mudas, que se manteve neste patamar durante o ano de 2009, com exceção de novembro (período chuvoso) que atingiu mais de 44 mil mudas.
Com números tão positivos, o viveiro pode atender uma demanda maior de produtores, que contaram com o dobro de mudas em 2009 (16.775 mudas) , em relação a 2008 (8.917) e para os projetos do Programa de Proteção da Mata Atlântica, que em 2008 retiraram 3.164 mudas e triplicaram este número no ano seguinte, quando usaram 10.761 mudas.
Para poder alcançar este sucesso na produção de mudas, foi estudado o método de germinação na natureza e reproduzidas certas condições como a cobertura orgânica para proteger as sementes, escolha correta da espécie exposta ao sol, ou na sombra e até exame das minúsculas mudas com lente. Todo este carinho é coroado por uma grande conquista. “Na natureza o índice de germinação e formação da futura árvore é, em média, 10%, enquanto no viveiro a chance de uma semente se tornar uma árvore é, em média, 90%”, comemora Fernandes.
A equipe do viveiro conta com ainda com o apoio do herbário do Parque Estadual do Rio Doce, que possui 1500 espécies devidamente identificadas e dessecadas. São as excicatas que trazem também o local exato onde se encontram as arvores, via GPS. Estes registros são de grande importância, pois muitas destas árvores são as matrizes, que terão suas sementes coletadas para a produção de mudas.
O herbário já é reconhecido pelo governo federal, está no Panorama dos Herbários Mineiros e Brasileiros e seu coordenador, o biólogo Geovane Saturnino Tavares, acredita que até o final do ano alcançarão a marca de cinco mil plantas catalogadas, o que permitirá a obtenção de certificação internacional. O herbário é único do Brasil no interior de uma unidade de conservação e o único da região leste em funcionamento. Além de colaborar no trabalho do viveiro,o herbário subsidia atualmente 65 pesquisas científicas.
Fonte: Secom/ Sisema
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