O Parque Estadual do Sumidouro, unidade de conservação integral sob responsabilidade do Instituto Estadual de Florestas (IEF), foi, há 8,3 mil anos, lar dos primeiros grupos de humanos que habitaram o Brasil central. De acordo com o coordenador da pesquisa, o professor Walter Neves, até então não existiam dados concretos que comprovassem que os primeiros habitantes da região viviam fora de abrigos. Segundo o arqueólogo, as margens da lagoa do Sumidouro foram o lar desses humanos.
Os trabalhos fazem parte do projeto de pesquisa "Origem e micro-evolução do homem nas Américas" do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP). O objetivo é entender quem foram os primeiros americanos e quando o homem chegou à região central do país.
Em 1934, na cidade Clovis, nos Estados Unidos, foram descobertos artefatos de caça feitos de pedra lascada associados a ossos de mamutes e bisões, animais que compunham o que os estudiosos denominam mega-fauna. Datados de 11,4 mil anos atrás os "‘Grupos Clovis", como passaram a ser conhecidos, foram considerados pela comunidade científica como os primeiros habitantes da América. A descoberta ainda mostrou que os primeiros grupos eram caçadores e se alimentavam de grandes mamíferos. Atualmente a cultura Clovis é o marco cronológico da ação humana na América.
De acordo com o arqueólogo da USP, pesquisas mais recentes realizadas na América do Sul começaram a apontar indícios da existência de culturas anteriores à Clovis. A região do Parque do Sumidouro, segundo descobertas dos arqueólogos, seria um desses locais. "Sempre acreditei que Lagoa Santa é uma região que potencialmente pode fornecer indícios que o homem esteve presente na América antes da cultura Clovis" declara.
O projeto de pesquisa da USP já identificou que na região os paleoíndios, além de viverem fora das cavernas, também conviveram com a mega-fauna, mas, ao contrário do "padrão Clovis", esses grupos aparentemente sobreviviam da coleta de vegetais, conforme comprova o número de cáries encontradas nos fósseis. "Essa descoberta mostra que o modo de vida dos grupos Clovis não foi o único padrão do homem americano", explica Neves.
A região de Lagoa Santa é conhecida internacionalmente pelo trabalho realizado pelo pesquisador dinamarquês Peter Lund. Em meados do século 19, o paleontólogo encontrou vários fósseis humanos e de mamíferos extintos que viviam na região, dentre eles o tigre-dente-de-sabre e a preguiça-gigante. Esses animais sobreviveram até cerca de 9.500 anos atrás e, conforme datações realizadas pela equipe da USP, conviveram com o homem na região do Parque do Sumidouro.
Gestão Multidisciplinar
De acordo com o gerente do Parque Estadual do Sumidouro, Rogério Tavares, o IEF entende que a concepção de unidade de conservação deve extrapolar a visão florestal. Segundo ele, o Parque Estadual, além do enfoque na preservação da fauna e flora, deve também ser visto na ótica cultural e histórica. "O Parque do Sumidouro está localizado em um ponto estratégico, a 40 km de Belo Horizonte e a 12 km do Aeroporto Internacional de Confins, dentro de uma área de grande relevância ambiental, cultural e turística" pontua.
O gerente de Gestão de Áreas Protegidas do IEF, Roberto Alvarenga, explica que a meta da gerência é que até o final de 2008 o Parque já esteja implantado. De acordo com Alvarenga, até o fim de 2007 o IEF irá adquirir 350 hectares e começar as obras de infra-estrutura, que incluem a construção de um centro de visitantes, casa de gerente e a estrutura administrativa.
Em relação ao potencial turístico do Parque associado às novas descobertas arqueológicas, o gerente afirma que é de prioritário interesse do IEF a elaboração de um projeto de visitação. "Nossa intenção é somar esforços com os poderes públicos locais e outras secretarias do Governo para transformar o Parque e a região em um roteiro turístico histórico-ambiental. Desta forma, Estado, prefeituras e principalmente a população local serão beneficiados", avalia.
Além do patrimônio arqueológico, o Parque abriga em seu entorno monumentos arquitetônicos que datam da formação do Estado mineiro. A Casa Fernão Dias, referência das expedições bandeiristas na região, e a Capela de Nossa Senhora do Rosário, construída por ocasião da exploração do ouro no rio das Velhas, são exemplos desse patrimônio. Essas construções são tombadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).
Governança Ambiental
Para fortalecer as ações de gestão ambiental executadas pelo Sistema estadual de Meio Ambiente (Sisema), o Governo de Minas publicou, em abril deste ano, o Decreto nº 44.500, que institui o Plano de Governança Ambiental e Urbanística da RMBH. O objetivo é promover o desenvolvimento sustentável por meio da preservação ambiental e o adequado controle do uso e da ocupação do solo metropolitano, integrando planejamento e execuções de ações de programas e projetos públicos e privados.
O plano, coordenado pelas secretarias de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, de Desenvolvimento Regional e Política Urbana, de Planejamento e Gestão, de Desenvolvimento Econômico e de Transportes e Obras Públicas, irá priorizar o vetor norte de Belo Horizonte. Dentre os projetos previstos, estão a implantação do Parque do Sumidouro, do Programa de Saneamento Ambiental da Bacia do Ribeirão da Mata e do Parque Serra Verde, esta última como medida compensatória do licenciamento ambiental do Centro Administrativo do Estado de Minas Gerais.
02/08/2007
Fonte: Ascom/Sisema