Foto: Evandro Rodney
Conhecido como o Rio de integração nacional, o São Francisco tem cerca de 70% da sua produção de água em território mineiro
Proteção de nascentes, construção de barraginhas e terraços, adequação ambiental de estradas vicinais e proteção de matas ciliares em sub-bacias hidrográficas. Estas são apenas algumas das ações desempenhadas por diferentes órgãos do Governo de Minas Gerais e que têm contribuído para a revitalização da calha da Bacia do Rio São Francisco no Estado.
No Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema), o Instituto Estadual de Florestas (IEF) é um dos órgãos responsáveis por desenvolver e apoiar projetos que visam melhorar a oferta de quantidade e qualidade de água no manancial. O “Meu Rio” é um dos projetos desenvolvidos pelo IEF, juntamente ao Instituto Grande Sertão (IGS) de Montes Claros.
As atividades concentram-se na Bacia do Verde Grande, afluente da margem direita do São Francisco, na comunidade de João Moreira, em São João da Ponte, no Norte do Estado. O projeto começou a ser desenvolvido em junho de 2019 e chegou, ao final do primeiro trimestre de 2020, com resultados expressivos. Cerca de 20 mil mudas foram plantadas, após doação do IEF, em 16,6 dos 940 hectares de abrangência da bacia.
IEF/Divulgação
Em parceria com o IGS Montes Claros, o IEF já realizou o plantio de cerca de 20 mil mudas em áreas próximas às nascentes; expectativa é de que o plantio de outras espécies seja expandido até o segundo semestre
Além disso, foram construídas 26 barraginhas para captar água da chuva. Manutenções e ações de limpeza também ocorreram em 70 barraginhas que já existiam na bacia do Verde Grande. Duas nascentes da bacia já estavam protegidas. A atividades, de acordo com o supervisor da Unidade Regional de Florestas e Biodiversidade (URFBio) Alto Médio São Francisco, Mário Lúcio dos Santos, foram desenvolvidas na região do córrego João Moreira e do Rio Arapuim. No caso do João Moreira, as mudas doadas, de espécies nativas, estão sendo plantadas na Área de Preservação Permanente (APP) do corpo d’água.
Segundo ele, a região é caracterizada por instabilidade hídrica, o que tornou a realização do projeto ainda mais importante. “São ações que podem permitir novamente a infiltração de água no lençol freático, em uma região com picos de secas frequentes”, analisa Mário Lúcio. “Qualquer atividade feita para recuperar os afluentes da bacia do Rio São Francisco, para aumentar a infiltração de água e para diminuir o carreamento de solo para os cursos d’água são positivas para a revitalização”, complementa.
A coordenadora geral do projeto pelo IGS Montes Claros, Vanessa Veloso, citou que o cenário antes das intervenções era preocupante. “Antes do projeto fizemos um diagnóstico ambiental, socioambiental. O cenário antes das intervenções era desolador. Muitas encostas desmatadas, processos erosivos avançados, com assoreamento de parte do rio”, salientou a coordenadora.
Ainda no Norte de Minas, o IEF atuará, juntamente a Associação Águas do Norte (ACAN) e a Companhia de Desenvolvimento Vale São Francisco (Codevasf) na revitalização de cinco corpos d’água da sub-bacia do Rio Cochá - afluente do São Francisco - em Bonito de Minas e Juvenília. No pacote de intervenções estão previstos ações para preservação de nascentes, construção de barraginhas e terraços, além da recuperação e estabilização de voçorocas.
As nascentes serão cercadas conforme as determinações do IEF. O órgão florestal do Estado também doará as mudas por meio do Viveiro em Mucambinho. Serão contemplados nas ações os córregos Água Ruim, Sussuarana, Extrema, Rio Poções e Grota do Paiol.
Todos os projetos em que o IEF atua com parceiros visando a revitalização do Rio São Francisco são pautados em diretrizes de conservação e restauração da biodiversidade, sustentabilidade ambiental dos imóveis rurais, práticas de conservação do solo e água, segurança alimentar, cumprimento das funções ecológicas das áreas, promoção dos serviços ecossistêmicos e mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Tais diretrizes contribuem, inclusive, com os objetivos do Programa Estratégico de Segurança Hídrica e Revitalização das Bacias Hidrográficas de Minas Gerais, o Somos Todos Água, que é de responsabilidade do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam): conservação e restauração da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos relacionadas à água, produção sustentável e uso racional dos recursos hídricos e saneamento, controle da poluição e obras hídricas.
Programa de Revitalização das Sub-Bacias do Rio São Francisco
Além dos projetos já citados, em Minas, desde 2008, a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), desenvolvem o Programa de Revitalização das Sub-Bacias do Rio São Francisco.
A iniciativa tem o apoio do Governo Federal, por meio da Codevasf, e o investimento total para o programa é de R$ 50 milhões a serem aplicados em ações de conservação de solo e água na porção mineira do rio, onde está concentrado 70% da produção de água. Até este ano, segundo o superintendente de Desenvolvimento Agropecuário da Seapa, Rodrigo Fernandes, foram empenhados mais de R$ 30 milhões para execução dos trabalhos.
Como balanço consta-se a construção de 40.295 barraginhas para captar água da chuva, estruturação de 2.418 quilômetros de terraços, proteção de 544 nascentes, adequação ambiental de 254 quilômetros de estradas vicinais, proteção de 480 quilômetros de matas ciliares e de topo e a revitalização de 140 sub-bacias.
As ações contemplaram 129 municípios. "A gama de ações e projetos governamentais, capitaneados tanto pela pasta da agricultura quanto na do meio ambiente, visando a revitalização dos nossos rios são fundamentais para a segurança hídrica, segurança alimentar e, por conseguinte, para o desenvolvimento sustentável do Estado de Minas Gerais", garante Rodrigo.
Coordenador do projeto e diretor de Desenvolvimento Sustentável da Seapa, Roberth Rodrigues diz que todas as ações visam melhorar a quantidade e qualidade de água. Os resultados, segundo ele, são positivos. “Os resultados são a médio e curto prazo, pois no primeiro período chuvoso após a implantação já é possível observar a eficiência das ações”, observa.
Ainda segundo Roberth, a importância do trabalho já é reconhecida por produtores rurais. “Antigamente tínhamos dificuldade grande em entrar nas propriedades rurais e convencê-los. Felizmente essa barreira, hoje, a gente não tem mais. Os produtores estão com as porteiras abertas para receber as nossas ações”, complementa.
Simon Nascimento
Ascom/Sisema