Fotos: Guilherme Paranaiba
Inauguração da nova estrutura teve descerramento de placa
O Governo de Minas, por meio do Instituto Estadual de Florestas (IEF), inaugurou nessa quarta-feira (16/12) o Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetras) de Divinópolis, no Centro-Oeste do Estado. A estrutura, que terá capacidade de atendimento de até 3 mil animais por ano, chega para reforçar o atendimento médico-veterinário e a reabilitação desses animais, que era realizado até então por cinco unidades hoje em funcionamento (três centros de triagem, um centro de reabilitação e um centro de triagem e reabilitação). Isso consolida os avanços obtidos pelo IEF no atendimento dos animais silvestres em Minas Gerais no ano de 2020.
O Cetras Divinópolis vai concentrar todas as etapas de atendimento dos animais da fauna silvestre, desde o recebimento, identificação, marcação, triagem, realização de exames clínicos, físicos e comportamentais, tratamento, reabilitação e, notadamente, a devolução ao seu ambiente natural. A estrutura é considerada modelo para o cumprimento de todas essas etapas e concentra, no mesmo espaço, triagem e reabilitação, da mesma forma que acontece no Cetras de Patos de Minas, que completou um ano de funcionamento neste mês de dezembro.
A caracterização como Cetras atende uma resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que estabeleceu a junção das categorias dos centros de triagem (Cetas) e dos centros de reabilitação (Cras). Tanto Divinópolis quanto Patos são unidades gerenciadas exclusivamente pelo IEF. Existem, ainda, três outros Cetas localizados em Belo Horizonte, Montes Claros e Juiz de Fora, e um Cras, em Nova Lima, que são compartilhados com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A estrutura, que passa a ser referência para o recebimento de animais silvestres no Centro-Oeste do Estado, foi inaugurada com a presença de representantes de diferentes instituições envolvidas com a gestão da fauna silvestre no estado, respeitando os protocolos de distanciamento social em virtude da pandemia de Covid-19. O diretor-geral do IEF, Antônio Malard, pontuou que com o novo Cetras, Minas Gerais chega à sua quinta região atendida com uma estrutura para recebimento de animais. Ele destacou que a expectativa é aumentar o percentual de animais devolvidos para a natureza. “Hoje nós temos um percentual de soltura que supera 50%”, destaca o diretor-geral.
Cetras Divinópolis terá 11 viveiros, entre espaços exclusivos para aves e também para mamíferos
ORIGEM DOS ANIMAIS
Os trabalhos no Cetras terão início em janeiro de 2021. Os animais dão entrada em unidades como o Cetras principalmente apreendidos pelos órgãos de segurança pública, como a Polícia Militar do Meio Ambiente, em sua maioria, vítimas do tráfico. Mas eles também podem ser recolhidos pelos órgãos públicos nos ambientes rurais e urbanos e ainda podem ser entregues de maneira voluntária pela população.
Segundo o tenente-coronel Noir Armond, que é chefe do Estado Maior do Comando de Policiamento de Meio Ambiente da Polícia Militar, a nova estrutura vai otimizar o trabalho da PM, que é o principal parceiro do IEF nas demandas dos centros de triagem e reabilitação. “Com essa unidade, a PM terá mais tempo para outras ações. A recuperação dos animais com certeza vai ser muito mais rápida e a reinserção na natureza será feita de forma mais ágil”, diz o militar.
ESTRUTURA
Em Divinópolis, o Cetras foi implantado em uma área de mais de 14 mil metros quadrados, cedida pela Polícia Militar de Minas Gerais. A área construída chega a 1,2 mil metros quadrados, com uma estrutura composta por bloco administrativo, dois alojamentos com capacidade para quatro pessoas, bloco médico-veterinário, cozinha para preparo de alimentos para os animais, dois viveiros para répteis, quatro viveiros para aves, três recintos para mamíferos e dois corredores de voo para reabilitação das aves, além de estação de tratamento de esgoto.
As obras tiveram custo total de R$ 5 milhões, recurso que veio da empresa AB Nascentes das Gerais, concessionária responsável pela rodovia MG-050, em cumprimento a um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Superintendência Regional de Meio Ambiente (Supram) Alto São Francisco.
Segundo o diretor-executivo da empresa, Joselito Rodrigues de Castro, o Cetras trará benefícios diretos para a biodiversidade regional. “A construção desse centro de triagem e reabilitação de animais reafirma o compromisso da AB Nascentes das Gerais com a sustentabilidade e com a preservação do meio ambiente. Acreditamos que esse investimento com a estrutura que está sendo oferecida vai permitir preservar a fauna silvestre de Divinópolis e região”, diz ele.
Sala de cirurgia é um dos diferenciais da estrutura considerada referência para triagem e reabilita;cão de animais silvestres
NÚMEROS
A expectativa do IEF é que a unidade de Divinópolis contribua bastante para aumentar a conservação da biodiversidade a partir do início de seu funcionamento, com o recebimento de animais que poderão se tratados, reabilitados e encaminhados de volta para a natureza. De janeiro a novembro deste ano, quase 5,3 mil animais deram entrada nos Cetas e também no Cetras de Patos de Minas, sendo que pouco mais de 3 mil já foram soltos e retomaram a vida livre, o que significa aproximadamente 57%.
De acordo com a diretora de Proteção à Fauna do IEF, Liliana Adriana Nappi Mateus, com o reforço de Divinópolis, será possível aumentar a capacidade global de recebimento de animais pelo Estado, além de outras possibilidades. Ela destaca, por exemplo, a existência de alojamentos para pesquisadores. “É uma estrutura pensada para se fazer um conjunto de ações, que agregam, por exemplo, a pesquisa às atividades do recebimento, triagem, tratamento e à reabilitação, possibilitando o desenvolvimento de protocolos para o manejo dos animais”, afirma.
A promotora de Justiça Luciana Imaculada de Paula, que é coordenadora de Defesa da Fauna do Ministério Público de Minas Gerais, destaca que o funcionamento de um Cetras abre mais possibilidades para que animais silvestres deixem de permanecer sob o domínio de infratores. “Animal silvestre não é pet. Existem animais que se favorecem da companhia de seres humanos como cães e gatos, mas os animais silvestres nasceram para viver livres na natureza para exercer funções ambientais e comportamentos típicos da sua espécie”, afirma a promotora.
Ainda segundo Luciana de Paula, a legislação prevê que todas as pessoas que tiverem um animal silvestre sob seus cuidados podem fazer a entrega voluntária, ficando livres das sanções administrativas. “A população vai poder se dirigir ao Cetras e levar aquele animal da fauna silvestre brasileira que eventualmente tenha em seu poder sem ser responsabilizado por isso”, completa. Essa possibilidade mencionada pela promotora vale para qualquer Cetas ou Cetras em que um animal for encaminhado.
Guilherme Paranaiba
Ascom/Sisema